Codificada por Aurora Boreal 💫
Atualizada em: 10/05/2025
Ela dirige crises.
Juntos vão pilotar o maior romance falso que o paddock já viu.
É com eles que devo me preocupar, mesmo que eu sinta os olhos de Sainz em mim durante todo seu trajeto.
— Quanto você está pedindo para ser assessora particular? — diz o piloto da Williams, parando ao meu lado e sussurrando sem me olhar.
— Eu não quero ser assessora pessoal de ninguém. — digo sorrindo, enquanto desvio minha atenção para Carlos. — Muito menos sua, com todo respeito.
Ele me olhou ofendido, assim como parecia querer soltar uma estrondosa gargalhada. Era difícil ofender Sainz, ele sempre achava graça de tudo e reconhecia que era péssimo com sua imagem pessoal. Logo, a única coisa que eu gostava dele é que eu o xingava por meia hora e o clima nunca pesava.
— , você me colocou nessa situação e agora precisa me ajudar com ela. — Ele ainda falava baixo, os olhos agora observando os pilotos da Ferrari a nossa frente.
— Que situação? — franzi o cenho.
— Você disse que eu precisava de um relacionamento.
— Eu disse que você precisava sossegar, e que a única chance disso acontecer é se assumisse alguém, Carlos. — Meu tom de voz era óbvio e calmo.
— Eu obedeci e agora eu estou com problemas.
— Se eu soubesse que iria assumir uma acompanhante de luxo, certamente eu iria o aconselhar a seguir tendo vídeos de orgias vazados na mídia. Mais uma vez, com todo respeito.
— Achei que pudesse me ajudar.
— Eu sou Relações Públicas da Ferrari, Sainz; eu ajudo os meus pilotos.
Ele abriu a boca para me responder, mas a entrevista de Leclerc e Hamilton terminou e o barulho de palmas e gritos tomou o ambiente. Alguns jornalistas vieram na direção de Carlos, que sorriu e acenou para Charles.
— Não consegue ficar longe de mim, né? — Leclerc abraçou Sainz, chamando atenção da mídia.
Dei dois passos para o lado, ficando o mais distante possível de qualquer câmera, de qualquer jornalista e de qualquer possível atenção direcionada a mim. Eu preferia ficar atrás dos holofotes, administrando a imagem dos pilotos e fazendo gerenciamento de crise quando eles faziam alguma merda – o que era recorrente.
— Na verdade eu vim ver a .
Ouvir meu nome sair da boca de Carlos Sainz em alto e bom som fez todo meu corpo tensionar de ódio e meu maxilar travar. Senti todos os olhares em minha direção e esbocei um sorriso tão falso quanto o que Carlos está carregando nos lábios.
— A ? — Charles e Lewis indagaram, fazendo todos rirem.
— Sim, eu precisava daquela massagem facial que ela fazia depois das corridas. — Carlos sentou em uma cadeira próxima a mim e me olhou. — E ela disse que faria em nós três agora.
— A nossa RP é maravilhosa, ela faz essa massagem... Espetacular. — Charles falou para um dos jornalistas que parecia interessado demais no que acontecia. — Mostre a eles como se faz, .
Senti o tapinha de Leclerc nas minhas costas. Carlos Sainz estava sentado, o rosto inclinado para cima e um sorriso irônico nos lábios. Eu queria massagear sua face na base de socos, essa era a verdade.
Afastei as pernas de Carlos e me aproximei, inclinei o suficiente para que só ele ouvisse o que eu estava prestes a sussurrar com toda a minha sinceridade.
— Eu te odeio. — Sorri após falar baixo.
— Me odeie massageando meu rosto, . — Sainz inclinou mais a face pra cima, sem tirar os olhos dos meus e sem abandonar o sorriso provocativo.
Comecei a deslizar meus dedos polegares do queixo para fora, tentando colocar mais força do que era necessária. Eu adorava fazer essa massagem nos pilotos, era verdade, mas não em frente às câmeras. E não em um piloto de outra equipe.
Carlos Sainz já havia sido piloto da Ferrari anteriormente, e me deu tanto trabalho quanto conseguiu, se metendo em escândalos com acompanhantes de luxo. Com sorte desempenho muito bem meu papel e consegui abafar grande parte de suas noitadas, mas em certo ponto decidi que ele precisava sossegar e aconselhei (talvez tenha sido uma ordem) que assumisse um relacionamento.
Bom, ele assumiu.
Com uma acompanhante de luxo.
Até hoje me pergunto se ele achou cômodo e fácil ou se fez isso para me irritar, como está fazendo agora, me olhando e sorrindo enquanto deslizo meus dedos pelo seu rosto, relaxando os músculos que eu queria estar esfolando na porrada.
— Pronto. — Dei um tapinha na bochecha de Carlos. — Charles, sua vez.
— Estou te devendo uma, . — Sainz levantou e pegou meu queixo de forma rápida.
— Imagina, não está não. — Sorri tão falsa quanto antes.
Enquanto eu massageava Leclerc, ele ficava fazendo piada e explicando ao jornalista porque era importante aquilo e o quanto ele achava que eu deveria ser vangloriada por proporcionar tamanho relaxamento pra ele. Depois foi a vez de Lewis, que também expressou sua gratidão pela massagem, dizendo que eu deveria ganhar um aumento.
Eu odiava chamar atenção, Carlos sabia disso porque já trabalhou comigo. Eu espero, do fundo do meu coração que ele e o problema dele se explodam em um escândalo tão grande que nem uma assessoria, dentro e fora desse paddock, consigam resolver.
Também esperava que o jornalista que gravou aquele momento ridículo meu com os pilotos olhasse para as imagens e pensasse "uma RP massageando o rosto de pilotos ou o vídeo de um piloto bêbado em uma festa? Definitivamente, um piloto bêbado em uma festa chama mil vezes mais a atenção".
Com esse pensamento, me certifiquei de que Charles Leclerc e Lewis Hamilton permanecessem sobre minha vigilância naquela noite. O seguro morreu de velho, como diz o ditado.
Dei um pulo no puff de couro vermelho assim que ouvi a voz de Silvia Hoffer. Até então, eu pensava que estava sozinha no motorhome. É irônico, mas acordo três horas mais cedo que todos e venho para cá para descansar.
Se eu ficar no hotel, irei encontrar meus colegas de trabalho, então chego primeiro que todos no paddock, entro no motorhome, coloco o celular no modo avião e leio um bom e idiota livro clichê no kindle, tal qual faria uma adolescente.
— Nossa, perdi a hora. — Assumo quando vejo o celular e percebo que já deveria estar perambulando por ali e fazendo meu serviço.
Fecho a capa do kindle e o atiro dentro da mochila de couro com p emblema da Ferrari. Me levanto, tiro o celular do modo avião e percebo que Silvia ainda me olha, parecendo um pouco sem paciência.
— O que estava falando? — sorrio enquanto ajeito a mochila no ombro e sinto meu celular vibrar, recebendo notificação.
— Pedi se podia ser sincera com você. — Seu tom de voz é sério.
Não entendo muito bem a pergunta, muito menos o tom em que ela é feita. Silvia é chefe de Comunicação na Ferrari, é como se fosse minha superior.
— Claro. — Balanço a cabeça e enrugo a testa, ainda confusa.
— Quando sugeriu que Carlos Sainz deveria namorar, quando ainda pilotava pela Ferrari, estava esperando que ele assumisse você, ?
— O que?!
O quase grito escapou dos meus lábios antes mesmo que meu cérebro conseguisse processar o porquê de Silvia estar fazendo uma pergunta daquelas.
Além de não fazer sentido pelo fato de eu não me envolver com pilotos, fazia menos sentido ainda por se tratar do Sainz, e de Silvia saber o quanto eu e ele vivíamos em pé de guerra antigamente.
— De onde você tirou isso? — Minha voz carregava um tom de incredulidade, como se eu quisesse dizer que Silvia estava ficando louca.
De fato, ela só podia estar ficando louca.
— Para uma RP você está bem desinformada.
Abri a boca para lhe responder, mas a moça que faz o café do motorhome passou com algumas xícaras, nos viu e se aproximou, sorridente.
— Espero sua posição para o gerenciamento de crise até o início da tarde, até lá, pelo amor de Deus, não crie mais alvoroço.
Silvia pegou um café e saiu. Eu olhei pra moça com as xícaras, que desfez seu sorriso, esperou eu me servir e saiu em disparada, me deixando sozinha na sala dos fundos.
Sentei em uma cadeira confortável junto a mesa de vidro, beberiquei o café e retirei meu celular do bolso. Checando as mensagens que entraram quando tirei o aparelho do modo avião.
Respondi alguns agendamentos de entrevistas e então comecei a abrir as notificações de marcação em redes sociais. Volta e meia interajo com alguns fãs, é bom para a marca e existem conteúdos realmente engraçados na Internet, para ser honesta.
Foi assim que eu descobri de que porra Silvia Hoffer estava falando.
A porra do jornalista achou uma boa ideia soltar o meu vídeo fazendo massagem em Carlos Sainz. Em Charles Leclerc e Lewis Hamilton também, mas a Internet não deu muita atenção a essa parte.
Os internautas focaram na notícia da separação de Carlos e Rebecca, que admitia ter sido traída pelo piloto. Logo, a Internet viu meu vídeo fazendo a merda de uma massagem nele e deduziu que ele estava tendo um caso. Comigo!
Assisti o vídeo um bom par de vezes, focando na forma doce que Carlos me olhava. Cada vez sentindo mais ódio. Ele fez isso de caso pensado! O problema dele era a separação de Rebecca devido a sua infidelidade. Sainz sabe que eu odeio chamar atenção, aproveitou isso e a minha negativa em ajuda-lo.
Agora eu sou quase obrigada a gerenciar sua crise de relacionamento porque, veja só, eu pareço ser o motivo!
— E ai, ! — Charles entrou sorridente. — Você e o Sainz...
— Não começa, Leclerc.
— Bem que eu desconfiava daquela birra toda entre vocês dois.
Olhei para ele com tanto ódio que Charles desfez o riso que trazia nos labios. Apertei meu celular com tanta força na mão que era capaz de quebra-lo.
Eu ia estourar a cara de Carlos Sainz.
Eu ia roubar seu próprio carro e o atropelar.
Sai do motorhome da Ferrari com passos firmes. Podia sentir alguns olhares na minha direção, mesmo que quisesse fingir que não. O aparelho telefônico na minha mão vibrou, olhei o visor e fechei os olhos de ódio logo em seguida.
— Bom dia. — Parei no meio do caminho para atender a ligação.
— Bom dia, . — Ouvi o riso feminino do outro lado da linha.
— Emma, eu juro que...
— Estamos no viva voz, Craig e Dominique estão comigo. — ela alertou divertida.
Ótimo.
Toda a porra da equipe de comunicação da Williams Racing em uma ligação comigo. Emma Carden é assessora de imprensa da equipe, auxiliada por Dominique Heyer-Wright e Craig Woodhouse, que é o superior delas.
— Nós estamos na sala de briefing da FIA, consegue vir aqui?
— Chego em breve.
Desliguei o telefone e caminhei apressada. A cada passo o ódio por Carlos Sainz aumentando. Eu tinha tanta coisa para fazer naquela manhã, gerenciar uma crise pessoal não estava na lista. Nunca deveria estar, inclusive.
Assim que me aproximei do prédio principal da FIA visualizei a sala de briefing, que ficava ao lado, um espaço mais compacto do que em outros circuitos. A figura de Craig e Dominique saindo, vindo ao meu encontro.
— Bom dia. — cumprimentei tentando ser simpática, mas só consegui ser estranha.
— Bom dia, . Vamos precisar ir para uma reunião, mas Emma está lhe esperando, tudo bem? — Craig falou tranquilo e sorridente.
— Sem problemas.
Ele e Dominique se distanciaram e pude me sentir um pouco mais calma. Emma e eu nos dávamos bem, as vezes saiamos para beber e falar mal do nosso trabalho. Adentrei a sala, ela estava sentada confortavelmente em uma cadeira e riu assim que me viu.
— ! — levantou-se.
— Oi, Emma. — me aproximei. — Eu juro que eu vou esganar Carlos Sainz!
— Incrível como você sabe exatamente do que eu gosto, .
A voz provocativa do piloto chegou até meus ouvidos e eu me virei instintivamente. A figura de Carlos Sainz estava logo atrás de mim, sorridente.
— O que ele está fazendo aqui?
— Vocês têm uma crise pra gerenciar. — Emma levantou, pegou sua agenda e me olhou.
— Nós, — apontei para mim e para ela. — temos uma crise pra resolver.
— , você é muito melhor que eu nisso, muito mais experiente. Além do mais, vocês precisam decidir se vão mentir ou assumir esse lance. — ela sorriu. — Confio em você, . Eu tenho uma reunião muito importante agora.
Emma não me deu tempo para resposta e saiu. Carlos sorriu e sentou em uma das cadeiras da sala, apoiou o cotovelo na mesa e continuou me olhando. Eu ponderava se valeria a pena descer a porrada nele agora.
— Está contente, Sainz? — vociferei enquanto me acomodava na cadeira a sua frente. — Era isso que você queria?
— Na realidade eu só queria sua ajuda antes que a Rebecca fosse pra mídia. — ele deu de ombros. — Não achei que isso aconteceria junto com a publicação daquele vídeo. — riu. — Mas consegui sua ajuda, afinal.
— Ok, é o seguinte... — me ajeitei e o fitei, séria. — É impossível você não dar entrevistas, então tente não falar sobre toda essa baboseira.
— Você sabe que o impossível é ninguém me perguntar sobre isso, né? — ele não tirava o sorriso divertido dos lábios.
— Diga que você e Rebecca estão se entendendo.
— Ela vai desmentir, ela está realmente brava.
— Você a traiu mesmo? — perguntei sem um pingo de paciência.
— Talvez. — ele passou a mão pelos cabelos e se recostou melhor na cadeira.
— Alguém pode ter visto?
— Impossível.
— Quando eu era RP você parecia fazer questão de aparecer, Sainz, ai agora faz as coisas no sigilo? — suspirei.
— Ia vazar um vídeo meu sendo infiel? — ele riu surpreso.
— Não seria nada novo para a mídia e eu provaria que não fui pivô da sua separação.
Carlos gargalhou, pegou o celular e começou a mexer no aparelho. Eu fiquei o olhando esperando alguma outra reação, esperando que ele levasse aquilo a sério. O correto a se fazer agora era evitarmos aparecer juntos, sequer próximos. Sainz estaria proibido de falar meu nome ou o nome da Ferrari, para não ser mal interpretado e eu não ousaria nem me pronunciar, seguiria fazendo meu trabalho como sempre, nos bastidores, sem ser notada.
Com sorte a poeira baixaria, a mídia perceberia que todo aquele alarde sobre termos um envolvimento amoroso era totalmente infundado, fruto de ideias malucas e percepções erradas na internet.
— Você sabe o quanto isso tudo bombou nas redes, ? — ele riu. — O ex piloto da Ferrari que mantinha um caso proibido com a RP.
— Nossa, Sainz, quando eu acho que já ouvi merda suficiente da sua boca, você vem e se supera. — revirei os olhos.
— Não sou nem eu que estou falando.
Ele me alcançou o telefone, aberto em um vídeo curto de rede social. O conteúdo se resumia em um corte do vídeo da massagem facial do dia anterior e inúmeras fotos minhas e Carlos Sainz, quando ele ainda era piloto da Ferrari e andávamos para cima e para baixo tentando resolver seus escândalos, ou quando eu o acompanhava em entrevistas.
— Tem mais... — ele riu e fez sinal para eu deslizar a tela do celular.
Assim fiz, me arrependendo no segundo seguinte, vendo um vídeo tendencioso sobre mim e ele termos um caso há anos. O outro era de uma garota dizendo o quando o meio do automobilismo proibia os pilotos de terem relacionamentos com pessoas da mesma equipe e que esse podia ser um dos fatores que levou Sainz a sair da Ferrari, pois só assim eu e ele poderíamos nos assumir.
— Eu vou te matar, Carlos. — devolvi o celular a ele. — Você fez isso de caso pensado, você está adorando essa situação.
— , — ele deu de ombros. — eu estou acostumado com toda a fofoca. Quem está em cólicas é você.
— Sim? — minha voz saiu mais alta do que o esperado. — Eu estava muito bem por trás das câmeras e agora, além de ter que aturar os olhares de julgamento pelo paddock, preciso encarar essas merdas na internet, Sainz. Eu tenho que gerenciar uma crise da minha própria imagem por algo que eu sequer fiz.
— Ok, o que vamos fazer? — ele se ajeitou.
— Não fale o meu nome. Nem o da Ferrari. — ele abriu a boca. — Se perguntarem...
— Vão perguntar, .
— Fale a verdade, então.
— Que traí a Rebeca?
— Isso aí eu não vou gerenciar, eu estou trabalhando na minha imagem nessa história, Carlos.
— Ok, que você não foi pivô da separação.
— Isso. Não é difícil. — falei em tom óbvio e ele riu com desdém. — O que?
— Eles não vão acreditar. Ninguém vai acreditar. , você precisa admitir, a história de romance proibido é muito boa. Porra, nem se eu quisesse eu teria criado algo tão bom.
Fiquei observando Carlos. Ele tinha razão, pensando bem. Talvez se ele nunca tivesse sido piloto da Ferrari a história não se tornasse tão interessante, mas ele foi, e eu fui sua RP.
Lembrei de Charles Leclerc falando que sabia que a minha implicância com Carlos Sainz escondia algo. Bom, não escondia nada além do ódio que eu sentia pela capacidade que ele tinha de se meter em situações idiotas, mas essa era mais uma camada de um belo romance escondido e proibido.
É como Jordanna Clamer e o alemão Nico Hulkenberg, eles se odeiam de uma forma tão palpável no paddock, mas todo mundo sabe que os dois estão tendo um envolvimento bem intimo fora das pistas. A gente finge que não, mas a gente sabe.
— Percebeu que eu tenho razão, . — ele riu. — Você fica muito bonita quando dá o braço a torcer, sabia?
— Você fica muito bonito longe de mim, Sainz, é onde deveria ter ficado. — suspirei.
— E você sabe que fico bonito longe de você como? Fica olhando minhas entrevistas?
— Não, graças a Deus as merdas que você fala já não são problemas meus. — sorri irônica e chequei o relógio. — Leclerc e Hamilton tem uma entrevista em vinte minutos, por falar nisso. Vamos alinhar nosso posicionamento logo, Sainz.
— Agora são, caso eu fale seu nome.
— Não vai falar. Nem o da Ferrari. Eu não vou mencionar o seu nome, caso eu tenha que me comunicar com algum ser humano. — me ajeitei. — Acredito que seja melhor soltarmos uma nota oficial.
— Tá de sacanagem. — ele riu.
— Estou falando sério, Sainz.
Eu tinha alguns modelos de comunicados oficiais salvos em uma pasta no celular, pois nunca se sabe quando precisarei usa-los. Abri um dos arquivos e comecei a fazer algo que pensei que jamais seria necessário: redigir um comunicado oficial para postar nas minhas redes sociais.
"Diante dos recentes rumores que envolvem minha vida pessoal e profissional, gostaria de esclarecer que as especulações sobre minha suposta influência na vida pessoal de um piloto de outra equipe são completamente infundadas.
Meu compromisso com a Scuderia Ferrari e com o trabalho que desenvolvo como profissional de Relações Públicas permanece inabalável. A equipe segue focada em sua performance dentro e fora das pistas, e não comentará especulações sem fundamento.
Agradeço o respeito à minha privacidade e reforço meu compromisso com a ética e a integridade no ambiente profissional.
Relações Públicas – Scuderia Ferrari"
— Vou te enviar a sua retratação, Sainz.
"No último dia, surgiram rumores infundados sobre minha vida pessoal, incluindo especulações a respeito de um vídeo que está circulando na internet em uma breve interação minha com . Gostaria de esclarecer que nossa interação foi estritamente profissional, que nossa relação segue amistosa devido a termos feito parte da mesma equipe no passado, qualquer insinuação além disso é completamente falsa.
Entendo o interesse do público, mas reforço que minha prioridade segue sendo minha carreira na Fórmula 1 e minha dedicação à Williams Racing. Não comentarei assuntos pessoais e agradeço o respeito à privacidade de todos os envolvidos.
CARLOS SAINZ
Piloto – Williams Racing"
— Tá tão na cara que foi você que escreveu. — ele disse após ler.
— Não estou nem ai, só publique isso logo.
— Nem citou meu nome na sua nota, , quanta frieza.
— Sainz, vai a merda. — me levantei. — Estou atrasada. Carlos, foi um desprazer ter que trabalhar com você novamente. Dito isso, espero que nunca mais precisemos respirar o mesmo ar.
— Retiro o que disse antes... Você fica mais bonita quando está irritada. — ele se levantou também. — Deve ser por isso que eu estava te olhando daquele jeito durante a massagem, você estava muito brava.
— Insuportável. — revirei os olhos.
— Alias, podia aproveitar que estamos a sós e me fazer a massagem facial. — eu apenas o fuzilei com os olhos enquanto ia até a porta da sala. — Ou se quiser pular pra parte que me esgana, eu gosto de mulheres bravas e violentas.
— Carlos, some.
Abri a porta e deixei que ele saísse rindo. Sai logo em seguida e fomos cada um para um lado.
— Sabe quem você vai conseguir enganar com essa nota de retratação? — perguntou rindo e ajeitando o boné da Ferrari. — Ninguém, . E sabe porquê?
— Não quero falar sobre isso, o assunto está encerrado. — Respondi categórica, arrumando a gola da camiseta polo de Hamilton, que só ria.
— Todo mundo sabe que essas notas são falsas. — Charles deu de ombros.
— Não são, Leclerc. — suspirei e perdi a cabeça pro lado o olhando.
— , pelo amor de Deus, semana passada mesmo você me fez publicar uma negando meu envolvimento na suruba do iate! E fui eu quem deu a ideia da festinha...
— Está me dizendo que acredita que eu e Carlos... — falei baixo e fiz um sinal com as mãos.
— , — Lewis colocou as mãos nos bolsos da calça. — Todo mundo acredita nisso, ainda mais depois desses comunicados e de vocês terem feito eles juntos.
— Não fizemos...
— Hoje de manhã. Na sala de briefing. Todo mundo sabe.
Lewis concluiu e Charles estampou no rosto um riso que poderia facilmente ter se transformado em uma gargalhada, caso Ralf Schumacher não tivesse chego com toda sua equipe para conduzir a entrevista.
Eu me sentia em uma queda livre sem fim. Parecia que quanto mais tentava resolver o rumor do meu caso com Carlos Sainz, mais lenha colocava na fogueira para alimentar as fofocas.
Começo a me questionar como posso ser tão boa em gerenciar os problemas dos outros e tão ruim quando preciso fazer o mesmo na minha própria vida.
— ! — A voz grave e animada de Ralf me puxa do aparente transe.
— Bom dia, Ralf! — Sorrio simpática. — Os garotos já estão prontos. Podemos começar.
— Claro! Claro! — Ele bateu uma palma e apontou as cadeiras para Charles e Lewis. — Venha, .
— Ah não, eu acompanho daqui. — Balancei as mãos em frente ao corpo.
— Eu faço questão, já pedi uma cadeira para você.
Ralf apontou o local vago entre Lewis e Charles, que ria como uma criança travessa. Não adiantava teimar com Schumacher. Me acomodei, cruzei as pernas e tentei parecer simpática.
— Rapazes, foi um prazer ter esse tempo com vocês! — Ralf finalizava a entrevista, me movimentei na cadeira, pronta para sair. — ! Ficou tão quieta.
Todos os olhares se voltaram para mim. Senti minha garganta travar enquanto esboçava um sorriso fraco, percebendo que esperavam que eu falasse algo.
— É meu papel, apenas acompanhar Lewis e Charles. — respondi por fim.
— E Carlos Sainz. — Ralf piscou e deu uma gargalhada.
Podia sentir meu sangue ferver de ódio.
— Apenas os pilotos da Ferrari, Ralf.
— Então acompanhava Carlos, certo?
— Se quiser que eu lhe conceda uma entrevista, Ralf, posso verificar na minha agenda meus horários.
— Seria um prazer, senhorita . — ele riu desconfortável. — Mas reserve umas duas horas, tenho muito o que perguntar.
Ralf Schumacher encerrou a entrevista e eu só pensava em uma coisa: me enfiar dentro do motorhome da Ferrari e ser esquecida por todos, como nos velhos tempos – doze horas atrás.
Não deveria ser algo difícil, já que era o que eu costumava fazer, saindo apenas para acompanhar algum membro da equipe em alguma entrevista ou algo do gênero. No restante daquela manhã e no início da tarde Lewis e Charles não tinham nenhum compromisso, exceto reunião com a equipe técnica para alinhar alguns detalhes para o treino livre mais tarde.
Eu finalizava alguns documentos e organizava a agenda dos pilotos enquanto meu celular estava conectado a um perfil em rede social onde Carlos Sainz entraria em uma entrevista ao vivo em alguns minutos.
Sabia disso porque perdi muitos minutos da manhã lendo os comentários na nota que ele publicou e vi que algumas pessoas comentaram que estavam ansiosas pra ver o que o piloto falaria na entrevista mais tarde.
Carlos Sainz é péssimo no ao vivo, então eu queria saber se dessa vez ele iria conseguir não falar nada comprometedor ou errado. Quando ele estava na Ferrari eu precisava corrigir suas falas, agora que ele estava na Williams Racing eu deveria estar em paz, mas estava muito mais em pânico que antes.
Com um fone de ouvido apenas, o celular no colo e meu notebook aberto nos arquivos da Ferrari, comecei a ouvir a entrevista. Nada de novo sob o Sol, perguntas sobre as expectativas do treino livre das próximas horas, assuntos técnicos e uma conversa leve que acalmava meus ânimos.
"Bom Carlos, como foi a saída da Ferrari?", a voz do entrevistador carregava segundas intenções nítidas. Baixei meus olhos para a tela do celular. "Foi tranquila", Sainz sorriu. Fechei a tela do notebook e peguei o celular, sentindo o coração acelerar. Carlos precisava mudar de assunto.
"Sente falta da equipe?".
Não responda.
Fale da equipe da Williams Racing.
Vi Carlos rir e, nesse momento, fiquei em pé.
"De algumas pessoas, sim".
Fechei os olhos e soltei um riso nasalado cheio de irritação. Para mim era evidente que Carlos Sainz falava de Charles Leclerc, pois mesmo que tivessem suas diferenças, os dois se davam muito bem. O problema é que para a mídia essa sua colocação só remeteria a uma pessoa: eu.
Comecei a caminhar pelo motorhome, em direção a saída. Precisava pegar um ar, matar alguém, gritar talvez. A voz do entrevistador soou no fone de ouvido, "Ah, mesmo? De quem?".
Olhei para o paddock esperando que a voz de Sainz soasse no meu ouvido com uma resposta ácida e quase mal educada, mas ao invés disso ele riu de maneira bem debochada. "Sinto falta de conviver com algumas pessoas, mas mantenho contato, então está tudo certo".
" ?", o entrevistador se ajeitou no pequeno sofá onde estava sentado, dando a entender que finalmente chegou no ponto da entrevista que desejava. "O que tem ela?", foi o que Carlos respondeu rindo.
Meu corpo todo ficou tenso. Aquilo precisava acabar. Sainz não sabe falar ao vivo. Comecei a andar apressada pelo paddock, rumo a estrutura da Williams. Queria encontrar Emma ou Craig e pedir para que tirassem Carlos de lá.
" é maravilhosa, uma ótima RP", a voz do piloto preencheu meu ouvido e eu nunca odiei tanto um elogio público. Alguém, que não é nem um pouco inocente, colocou Smooth Operator para tocar no ambiente.
Eu conseguia ver o logo da Williams a minha frente. Carlos estava dando a entrevista em uma das salas montadas ao lado do motorhome. Vi quando a equipe de comunicação deles saiu pro lado contrário. Eles só podem não conhecer o talento de Sainz em dar bola fora ao vivo para deixa-lo lá sozinho.
"Me ajudou muito enquanto estive na Ferrari e...", ele fez uma pausa e riu. Meu coração fez uma pausa, meus pés andando rápido. Cale a boca, Carlos Sainz. Finja um desmaio.
"E?", o entrevistador estava interessado demais.
Alcancei o caminho até a sala onde Sainz estava dando a entrevista, quanto mais eu me aproximava, mas distante a porta parecia estar.
"Combinamos de não falar sobre isso".
Foi o que Carlos Sainz falou e, no segundo seguinte, eu empurrei a porta do local, chamando mais atenção do que deveria. Meus olhos foram na direção do piloto, eu sentia minhas narinas alargadas de tanto ódio. Como ele consegue ser tão... Burro?
Percebi quando Sainz arregalou os olhos e crispou os lábios, sorrindo e percebendo que falou a maior asneira possível no pior momento existente. O entrevistador e equipe de mídia dele, por outro lado, sorriram tão satisfeitos quanto uma criança ganhando de Natal o que pediu.
Bom, como eu consigo ser tão burra?
— Por falar nela! — o jornalista sorriu e apontou para mim.
Fiz a única coisa que estava ao meu alcance, sorri e dei um breve aceno antes de dar as costas, sentindo meu rosto ficar vermelho Ferrari de ódio.
Bom, e se eu pedisse demissão?
Ou matasse Carlos Sainz?
Mas isso era um mero detalhe. O motorhome da Ferrari estava em um clima agradável e confiante. As redes sociais da equipe recebiam comentários referentes apenas aos pilotos e, embora ainda houvessem algumas menções sobre o que Carlos falou mais cedo, nada parecia chamar tanta atenção.
Silvia Hoffer não parecia contente comigo, mesmo que eu tivesse feito o que estava ao meu alcance para dissipar os rumores sem nexo nenhum entre mim e o piloto da Williams. Agora era esperar a mídia focar em resultados de treinos e deixar que a história sumisse.
Afinal, estamos falando de automobilismo, de velocidade, de homens em carros potentes dando voltas em pistas insanas, não de celebridades de Hollywood. Existe muita coisa pra noticiar dentro da Formula 1, um suposto caso de um piloto e uma integrante da equipe de comunicação provavelmente era a menos interessante, para ser honesta.
— Sobre o que você e Sainz combinaram de não falar? — depois de muito tempo me olhando, foi isso que Silvia me falou quando se aproximou.
— Ele se expressou errado, como sempre. — revirei os olhos. — "Combinamos", — fiz aspas com os dedos. — De não tocarmos no assunto dessa fofoca sem cabimento algum, tampouco falarmos um do outro.
— Não parece que ele concordou. — ela sorriu.
— Sainz tem um problema com entrevistas, principalmente ao vivo.
— Parece conhecer ele muito bem.
Eu senti cada pingo da ironia de Silvia Hoffer. Balancei a cabeça, soltando um riso fraco, sem acreditar que ela estava crendo no caso entre mim e Carlos. Bom, parece que todo mundo acreditava nisso, mesmo que não fizesse sentido algum.
— Eu não vou conseguir provar que não tenho nada com ele, não é?
— Às vezes o melhor é não mentir, , pra não acabar se enrolando na própria narrativa.
Silvia deu o primeiro sorriso da noite e se retirou, levando consigo todo o pouco animo que havia no meu corpo. Por mais que eu soubesse que as notas de retratação geralmente eram apenas para cobrir as verdades com panos quentes, precisava que acreditassem nelas dessa vez. Era verdadeiras, afinal.
Fiquei mais uma hora no motorhome e retornei pro hotel. Solicitei ao serviço de quarto uma boa garrafa de vinho. Enchi a banheira da suíte, acendi algumas velas, coloquei uma música ambiente, servi uma taça e fiquei tentando relaxar.
Enquanto eu acessava as redes sociais e constatava que, a última coisa que eu conseguiria fazer era relaxar, tentei entender porque um boato me irritava tanto. Eu via muitas pessoas levantando teorias sobre meu romance proibido com Carlos Sainz, li até algo que dizia que o bom desempenho dele no treino livre era devido a estar "livre" agora.
Talvez tudo me irritava porque me tirou da bolha do anonimato total. Eu não era uma completa desconhecida, muitas pessoas sabiam quem eu era por que realmente acompanhavam a Ferrari, e eu me sentia feliz com esse reconhecimento.
Porém, agora eu via minha cara em edits de redes sociais, estava recebendo comentários estranhos em minhas postagens e mensagens de apoio, que diziam que sempre perceberam algo entre mim e Saiz.
Ódio, só se fosse.
Carlos era difícil de lidar pelos escândalos que se metia. Ele vivia sua vida da melhor forma possível, esquecendo que onde ia tinha alguém com uma câmera, pronta pra gravar tudo. Para ele não era um problema, para a Ferrari sim.
Eu vivia acobertando-o, isso me fazia odiá-lo. Mesmo que eu tentasse expor os problemas de tantas aparições, Sainz ria e dizia que ia maneirar. Durava vinte e quatro horas.
Quando ele concordou em assumir um relacionamento e o fez com a acompanhante de luxo, eu só precisei reafirmar que o amor está onde menos esperamos e rezar para que ele não tivesse um vídeo intimo vazado. Mas pareceu dar certo.
Bom, pelo menos ele a traiu em sigilo, o que já era um grande feito para Carlos Sainz. Quer dizer... Agora todo mundo achava que a amante era eu. Ou que ele a assumiu pra me... Afetar? Esquecer? Ou que nós nunca deixamos de nos envolver.
Me afundei na banheira, deixando a taça de vinho pro alto. Queria afogar aqueles pensamentos, assim como queria afogar Carlos Sainz e todos que achavam que tínhamos um envolvimento.
Silvia Hoffer disse que as vezes o melhor é não mentir. Era exatamente o que eu estava fazendo quando soltei a nota naquela manhã, ou quando escrevi a de Carlos, negando nosso envolvimento.
Emergi, tendo a certeza de que estava enlouquecendo quando uma ideia surgiu em minha mente. Tomei um generoso gole de vinho e enchi a taça, secando-a em seguida, sentindo a acidez da bebida na minha boca.
Peguei o celular e busquei o número de Carlos, digitando uma mensagem imediatamente apenas com as palavras "gerenciamento de crise", enviando em seguida. Era como eu o falava que ele havia feito merda quando corria pela Ferrari. Despejei mais vinho na taça, aguardando a resposta, que veio em pouco minutos, em áudio.
"Não falei nada agora, estou no meu quarto de hotel, inclusive mandando áudio pra você ouvir o delicioso som do nada, ". Era engraçado que ele sabia que levaria esporro.
Perguntei qual era seu quarto, num momento de insanidade. Sai da banheira, coloquei meu pijama e me cobri com um roupão branco e macio. "Que tipo de gerenciamento é esse?", ele riu no áudio, depois enviou o número do quarto. 755. Previsível.
Peguei a garrafa de vinho, meu celular e a chave do meu quarto. Sai pelo corredor de pés descalços, cabelo pingando e o medo de ser vista naquelas condições, mas precisava aproveitar a coragem e a insanidade antes que elas deixassem meu corpo e eu precisasse voltar a pensar em como fazer a mídia acreditar que eu não estava envolvida com Sainz.
Depois de pegar o elevador sozinha, percebi que talvez a sorte estivesse ao meu lado. O corredor do sétimo andar se desenhava a minha frente, caminhei o mais rápido que pude até a porta de número 755. Dei uma leve batida e logo em seguida o rosto de Carlos surgiu pela fresta.
— Preciso entrar. — falei apressada.
— De roupão com uma garrafa de vinho? — ele franziu o cenho, ainda sem abrir a porta toda.
— Sainz, ninguém pode me ver aqui.
— Então não deveria ter vindo, . — ele riu e abriu a porta.
Entrei o mais rápido que consegui. O quarto era como o meu, amplo, fracamente iluminado e altamente sofisticado. Carlos fechou a porta e eu o olhei, estava só de calça jeans, sem camisa. Já o vi assim um milhão de vezes, o que mais me incomodava nessa situação era o meu estado.
— O que eu fiz dessa vez? — Sainz sentou na ponta da cama e me olhou.
— Combinamos de não falar sobre isso? — disse em tom sério.
— Isso ainda? Achei que já tivesse superado. — continuava rindo.
Suspirei e peguei duas taças de cima do aparador do quarto, servindo uma quantia generosa de vinho em cada uma delas e alcançando para Carlos.
— Seu gerenciamento de crise consiste em me alcoolizar na noite antes do treino livre? E eu nem quero pensar no que mais você está cogitando para ter vindo aqui de roupão essa hora, .
— Eu tive uma ideia. — bebi todo o vinho da minha taça. — Se você continuar a falar eu vou desistir dela, mas eu acho que é a nossa única salvação.
— Está dando importância demais pra isso.
— Carlos, ninguém me conhecia e agora me conhecem por ser amante. — suspirei. — Você acha isso justo?
— Você tem um ponto. — ele crispou os lábios. — No que pensou?
— Beba seu vinho, vai precisar. — servi mais uma taça para mim.
— Realmente sua ideia é me embriagar hoje? — ele tomou um gole quase mínimo da bebida.
— Às vezes a melhor coisa é não mentir. — falei como se fosse óbvio.
— Que é o que você está fazendo.
— Depende. — crispei os lábios.
— Não entendi? — Sainz apoiou os cotovelos na cama, ficando meio deitado, meio sentado.
Bom, a vista era realmente interessante, mesmo que eu já a tivesse visto várias vezes. Efeitos do vinho, provavelmente.
— A mentira pra mídia é o que estamos falando, que não estamos nos envolvendo. Então, talvez, — bebi mais vinho pra ajudar. — Devêssemos dar a eles o que eles querem.
Carlos Sainz parou. Me olhava. Esperava que eu dissesse algo. Qualquer coisa.
— Você quer dizer...
— Falamos que tivemos um breve envolvimento, mas que não deu certo. — dei de ombros e ele fez um sinal de negativo com a cabeça. — Porra, Sainz!
— Isso é como jogar gasolina em tudo, . Mas... Temos uma opção melhor.
— Eu te matar? — sorri. — Esse foi meu primeiro pensamento, se estiver de acordo, eu topo.
— Não. — ele gargalhou. — Assumimos um relacionamento.
Carlos Sainz tinha seu rosto iluminado, como se tivesse acabado de descobrir a cura do câncer. Levantou, terminou seu vinho, serviu mais um pouco e me olhou, aguardando aprovação, ou uma resposta, ou sua morte.
— Você só pode estar louco. — gargalhei.
— Se você falar que já tivemos algo, a mídia vai esperar que a gente tenha uma recaída. Vão ficar te perseguindo. , não seja ingênua, sabe como eles são tendenciosos e adoram essas coisas. — ele veio na minha direção. — Mas, se simplesmente falarmos que é isso, estamos juntos depois desse tempo todo, o máximo que vai acontecer é eles falarem disso por um mês. Depois você me espanca com sua bolsa no paddock, me chama de cafajeste, a mídia fala disso por mais um mês e fomos só mais um casal que não deu certo.
Não sei se é o vinho diminuindo minha capacidade cognitiva, mas o que Carlos Sainz acabou de falar faz tanto sentido que me sinto zonza e burra por não ter pensado nisso antes.
— Devo estar bêbada, mas você tem razão. —enchi minha taça.
— Ótimo. — ele riu. — Como fazemos isso?
— Sainz... Isso é sério.
— Não, é um relacionamento de mentira.
— Não essa parte, idiota. Temos que fazer as pessoas acreditarem nisso. Mesmo.
— Ah, isso... — ele riu de novo. — Sim.
— Amanhã você chega na Williams e fala com Craig. Diz que estamos juntos. Eu faço o mesmo na Ferrari.
— Certo. E?
— E o que?
— E a mídia?
Ficamos nos olhando.
Carlos balançou a cabeça, pegou a garrafa de vinho, tirou a taça das minhas mãos e a posicionou ao lado da bebida, junto com sua taça. Pegou seu celular e tirou uma foto, publicando nos stories de sua rede social com uma pequena legenda sobre relaxar e poder tomar um pouco de vinho pra comemorar.
— Sua vez. — devolveu minha taça. — Poste algo com o vinho, já está todo mundo atrás de nos pegarem nessa mentira de não estarmos juntos, então dê a eles uma migalha de que é, mentimos, estamos juntos.
— Você parece bem à vontade fazendo isso. De uma forma assustadora e natural. — peguei a taça.
— Brincar com a mídia? , eu vou adorar fazer isso. — ele riu. — Uma pena que seja com você.
Sorri sem graça alguma enquanto tirava uma foto da taça nas minhas mãos, enquadrando quase o mesmo fundo da foto de Carlos, publicando na minha rede social em seguida.
— Ótimo. — larguei a taça vazia sobre o aparador e peguei minha garrafa de vinho. — Não esqueça de comunicar a Williams amanhã.
Sai do quarto de Carlos Sainz com a mente a ponto de explodir, sem certeza alguma se estávamos fazendo a coisa certa. Se a mídia descobrisse que estávamos fingindo um relacionamento eu me sentiria tão envergonhada que pediria demissão da Ferrari e iria morar em uma vila sem acesso à internet em qualquer canto do mundo.
Inclusive, comecei a pesquisar locais assim quando deitei na minha cama.
Continua...
Tem alguém lendo isso? Bom, eu espero que sim! KKKKKK
Assim como espero que estejam gostando e que me digam, acham que esse plano de Carlos e Cissa vai dar certo? E se vai, até quando? E se não, porque?
Sou suspeita pra falar, amo esse casal que criei e estou em ressaca autoral – aquela em que você fica sofrendo quando termina de escrever algo. Ah, é, a fanfic já está finalizada aqui nos meus arquivos, MAS eu estou revisando os capítulos toda vez que envio.
Enfim, agradeço caso alguém esteja acompanhando ❤️ e espero estar a
altura de ser lida por vocês nesse site que tem tanta história bacana!
Até a próxima atualização!